Era um daqueles raros dias solarengos na Suécia. Tudo corria na perfeição. As crianças brincavam e riam na rua. Os pássaros chilreavam. Os parques estavam mais verdes que nunca. E, acreditem ou não, até consegui convidar uma sueca, a Ida, para ir aproveitar o dia comigo... O plano era promissor: íamos comer um gelado na esplanada e depois... logo se via!
Lá nos encontrámos. O tema de conversa acabou por cair sobre a violência infantil. Ela estava a fazer um trabalho em que tinha de comparar a violência infantil no Norte e no Sul da Europa. Como tal o meu ponto de vista interessava-lhe...
- Pedro, o que achas da violência infantil?
- Ora, acho muito reprovável. Não há direito a bater em crianças. Elas são indefesas. - impressionei-a desde logo. Afinal onde já se viu um macho latino com tanta sensibilidade?!
- E é costume em Portugal abusar das crianças com violência? Conheces algum caso?
- Bom, claro que há casos de violência. Felizmente não conheço nenhum, mas acontece ouvir histórias tanto nos noticiários como por amigos.
- Fico contente por não estares a par de casos de violência infantil. Acreditas que li num artigo que em Itália os pais batem aos filhos para os educar?!
- Ahhhhhhhh espera lá isso estamos a falar de outra coisa! Isso não é violência!
- O quê?! - interrompeu surpresa - Tu achas normal bater numa criança?!
- Oh Ida mas isso não é bater, isso é educação. Quando uma criança se porta mal tem de ser repreendida - disse eu com tom paternal - e uma palmada nunca fez mal, pois não? - perguntei-lhe piscando o olho
- Mas Pedro… alguma vez te deram uma palmada? - perguntou-me completamente chocada
- Ohhhh minha amiga... Se me deram uma palmada... Ainda hoje a minha mãe guarda com muito carinho a colher de pau com que me dava uns açoites... E por pouco não sou do tempo em que os professores davam reguadas nas mãos dos alunos que se portavam mal! - respondi com nostalgia
A conversa terminou por ali. Ela foi para casa. Eu fiquei na esplanada a acabar de comer o gelado (e o gelado quase inteiro que ela lá deixou, que por acaso tinha um sabor bem melhor do que o meu).
De Canina - Mister a 18 de Setembro de 2008 às 13:59
LOL!! mto bom! mais uma jogada fenomenal =P eu pgto-me onde vais buscar tanto talento!
Hahahahaha...
A tática tá toda em campo, falta só a técnica :D
De Cintia a 17 de Setembro de 2008 às 16:07
Por aqui na Suiça tambem se educam as crianças na base do dialogo,palmada é que não!Nao sei ate que ponto sera benéfico educar apenas na base do dialogo porque ve-se por aqui crianças que usam e abusam dos pais,com conversas altamente chantagistas para a idade que teem,sem falar das crises que fazem quando querem alguma coisa...e os pais nem ligam,deixam-nos gritar e espernear a vontade ate se cansarem e continuam a sua vida impavidos e serenos.Sou contra a violencia infantil mas se eu fizesse metade da fita que os miudos daqui fazem,era palmada garantida.Desculpa pela falta de acentos e tal mas o teclado é alemão e eu nao estou muito habituada a escrever nisto,ainda!
Viva Cintia! :) Quando dizes que és da Suíça nunca confundem com a Suécia? É que os Suecos queixam-se muito disso quando estão no estrangeiro :D
A ter em conta o teu comentário estou a ver que não é só essa a semelhança que partilham. Para quando um Jogo da Suíça para ver que outras semelhanças existem? :)
De Cintia a 19 de Setembro de 2008 às 08:57
Ola de novo :) Bom eu nunca digo que sou da Suiça digo que sou de Portugal mas que moro na Suiça.As pessoas daqui ate ficavam um bocado a banda quando me perguntavam de onde era e eu respondia,Portugal.Nao acreditam que seja possivel haver portuguesas ou portuguesas brancas e loiras como eles,houve pessoas que ate tive que mostrar o B.I.Portugues para eles é moreno,arabe ou mulato e ponto final.Quanto as semelhanças com a Suécia posso desde ja dizer que aqui a marmelada tambem tem forma de chouriço,os molhos sao em tubos de pasta de dentes,os ovos sao brancos (mas nao cheguei a perguntar a ninguem se eram de galinha porque havia uma galinha desenhada na caixa),o frio é qualquer coisa de aberrante porque teem frentes frias todo o inverno vindas da Sibéria,de momento a maxima diaria sao 13 graus,a minima 6.O frio mesmo a serio comeca em Novembro (tipo 0 de maxima) e acaba no fim de Março (temperaturas negativas ate aos -12 entre Dezembro e Fevereiro).Normalmente neva ate Abril.Comem a base de batata,salsichas,queijos,vinho e cerveja e sao todos grandes e loiros de olhos claros hehehe.Moro na parte alema,na zona francesa e italiana ja sao mais baixitos e nao ha tantos loiros,na parte romanche nao sei porque ainda nao fui visitar :P e pronto é isto.Ahhhh e sao super civilizados funciona tudo a tempo e horas,se for preciso comboios e autocarros ate chegam antes da hora marcada e nunca depois,dizem obrigado e perdao por tudo e por nada,enfim funciona tudo como um relogio suiço.Esta sempre mau tempo (chuva),verao nao ha...22 graus no maximo.E pronto ja estaaaa :D é depressivo voilà
Estou a ver que entao os dois paises tem muito em comum... :)
De Arthur a 12 de Setembro de 2008 às 18:16
Só passando aqui pra dizer que o teu blog é muito bom conheci outro dia e li todo rapidamente, se o assunto da Suécia acabar deverias falar do teu cotidiano em portugal...
Olá Arthur! Fico contente por saber que gostaste do conteúdo! :)
Espero ver-te por cá mais vezes.
De Thiago a 10 de Setembro de 2008 às 06:25
Muito legal o seu blog. Eu tenho uma certa curiosidade no que diz respeito à Suécia, e aos países nórdicos em geral. E a primeira coisa que me veio a cabeça quando li esse post foi isso: http://br.youtube.com/watch?v=nojWJ6-XmeQ
Quando eu vi esse vídeo, não teve como não pensar: "Puta que pariu, se é o meu filho..."
Agora... isso é só a garota, ou os escandinavos são assim xiitas mesmo quanto à essa questão da "violência infantil"? E como eles disciplinam as crianças aí? Só na base da conversa mesmo? Não rola nem um castigo?
Já ouvi falar de alguns pais que conseguiram educar seus filhos "à moda sueca". Eu mesmo gostaria de criar os meus assim, mas não sei se esses pais são algum tipo de supernanny, se os filhos que são tranquilos por natureza e não dão trabalho, ou se o próprio fato de se viver num país onde as pessoas são mais educadas e o sistema funciona propicia um clima pra uma educação mais branda. Enfim, eu não sei se isso É possível, ou se isso depende de fatores alheios à minha boa vontade.
se rola um castigo, não é com pancada ;)
se calhar é complicado educar um filho à moda sueca, num país onde um filho vê outra realidade de educação à sua volta...
digo eu... mas não custa nada tentar :D
De
Jo a 9 de Setembro de 2008 às 14:55
O teu blog... fascina-me a sério..
Qto a violencia infantil.. De facto, uma palmadita não me parece que seja grave.. algumas crianças são mais faceis do que outras... Mas as vezes é melhor uma palmada do que um discurso... Quando eu era miuda lembro-me perfeitamente de preferir uma "lambada" do que ouvir a minha mae dizer " estou muito triste, desiludiste-me, não pensei que fosses uma menina tao ma".
Isso magoava-me mesmo, ficava dias a pensar que tinha feito a minha mae entristecer. Ja as "solhas", levava e passava, passado uns minutos ja tava td bem...
Mas como em tudo existem limites... Uma coisa sao as palmaditas.. Outra bem dft sao as tareias... isso sim, repudia-me e apesar de saber que nao tenho nada com o assunto, ja n é a primeira vez que o meu pai me tem que agarrar quando vou na rua e vejo um camelo a bater no filho como se fosse um saco de batatas...
Bom... eu pessoalmente levei as minhas palmadas quando era novo e não vivo traumatizado com isso, nem acho q isso me tenha tornado uma pessoa violenta...
É como dizes... Para tudo existe limites
Violência infantil nunca, estamos de acordo. Agora considerar uma "palmadita" (aquelas que o efeito sonoro é muito superior ao impacto) como violência infantil...não exageremos! Concordo que a dita "palmadita" transporta a mensagem de que é assim porque eu quero, escusando uma explicação mais racional...por outro lado, será que não é por falta de umas "palmaditas" na sua infância que os suecos têm têndencia a considerar algo um problema gravissimo (muitas vezes passível de suicidio), quando para nós, latinos, trata-se apenas de um precalço do caminho?
"Agora considerar uma "palmadita" (aquelas que o efeito sonoro é muito superior ao impacto) como violência infantil...não exageremos! "
foi exactamente o que tentei explicar a ela... o castigo não passava essencialmente por causar dor, mas mais por causar humilhação para que não se voltasse a repetir o comportamento.
mas... não é fácil para um sueco aceitar isso
De
Pedro a 7 de Setembro de 2008 às 23:22
olá.
o teu blog é genial, já há algum tempo que costumo passar por aqui mas nunca tinha comentado. só pra te informar que te adicionei no meu blog. neste momento estou a 3 dias de me mudar para londres e decidi criar um blog do mesmo genero para dar a conhecer a vida por lá.
fica bem.
bom trabalho.
olá Pedro! eu vou lá dando uma espreitada ao blog a ver o que se passa por londres! :)
De Anónimo a 7 de Setembro de 2008 às 22:35
Pois é Pedro,
Lembras-te do que aqui escrevi sobre o episódio da piscina em que as criancinhas suecas pararam todas quando ouviram na aparelhagen sonora a voz de um adulto?
Lá deve ser: quando um adulto fala as crianças "baixam as orelhas" e é deste saber ouvir que nasce toda a sua boa educação.
Aqui ouve-se muitos pais e amigos dos pais a dizerem que têm uns "terríveis" lá em casa, na frente dos "terríveis" e todos acham muita piada.
Não tou a ver na Suécia falarem assim das crianças.
Educação, lá, é assunto sério.
Abraços
yep, lembro e bem desse episódio... é daqueles que até custava a crer se não fosse passado num país nórdico
De
dina a 7 de Setembro de 2008 às 20:18
Ainda bem que estás de volta com novas histórias.
Quanto ao tema violência infantil, acho que todos temos uma palavra a dizer e de uma maneira ou de outra já todos passamos por isso (não esquecer que também há violência psicológica .).
Eu sou do tempo (ainda não cheguei aos trinta, mas...) em que se levava reguadas na escola e era compreensível bater nos filhos. Sim, os meus pais deram-me uns açoites quando me portava mal e devo dizer que não me fez mal nenhum, apesar de ser contra este tipo de educação. Acho que se deve começar por impor respeito pelo diálogo, mas eu também não tenho filhos, quando os tiver...
Já agora, a Ida antes de te deixar 'pendurado', explicou-te ou tu sabes como são os suecos educados? Sinceramente, conseguem educar mesmo só através de diálogo?
Olá!
Sim... conseguem mesmo só educar pelo diálogo... estranho mas verdade :D
De antonio carlos a 25 de Novembro de 2012 às 15:10
por isso mesmo os suecos são o povo mais evoluido do mundo com maior rendimento per capita, enfim....não há milagres
De Ana Silvia a 7 de Setembro de 2008 às 11:43
Antes de começar queria dizer que acho o teu blog muito bom, sempre passo por aqui para ver os post que são garantia que me vou rir um bocado :)
Em relação ao tema, concordo que uma chapadinha na hora certa nunca fez mal a ninguem, claro que não é o espancamento, mas ás vezes mostrar que não se pode fazer tudo o que se quer e que as nossas acções teem consequencias sejam elas quais forem acho importante no processo educativo.
Tive um ano a dar aulas e acreditem ou não a parte do respeito pelas pessoas mais velhas e pelas pessoas que estão a tentar incutir conhecimento foi um bocado descurada na educaçao daqueles meninos, e não é com 15 anos que se vai tentar educar. Ainda por cima o professor alem de ensinar tem que educar e formar enquanto pessoas os alunos e se por algum motivo repreende um aluno por alguma atitude incorrecta tem os paizinhos á perna, é pena como esta o sistema de ensino hoje em dia. Por isso e pela minha falta de sentimento maternal desisti da carreira de professora lol
O pior é que isso se repercute (e de que maneira) mais tarde nos profissionais que temos...
Infelizmente dou por mim a conhecer demasiadas pessoas que me fazem crer que os adultos são autênticas crianças, com a menos valia de já não se poderem educar...
De MJ a 13 de Setembro de 2008 às 02:45
LOOOOL! Acho que este foi o melhor comentário de todos loooool!
o pior é que é bem sincero ;P
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