Há coisas em que por mais que insistamos nunca somos bons.
Afinal olhem para mim: viajante que sou, habituado a ter de partir e a deixar muito para trás, ainda nunca consegui seguir viagem de consciência tranquila. Com a certeza de que ficou tudo exactamente como devia. De que não havia mais nada para fazer. Uma despedida de que eu me pudesse orgulhar.
Nunca tive uma partida que me fizesse crer: "Catano, isto é que foi uma despedida valente! É que ficou tudo exactamente como eu queria. A despedir-me com esta qualidade até cá volto daqui a uns dias só para me despedir outra vez."
Nunca.
Viajar é, para mim, um trabalho constantemente inacabado. E neste blog encontrei inesperadamente uma das viagens mais marcantes que já fiz.
Embarquei sozinho na aventura. Mas pelo caminho fui conhecendo outros forasteiros que fizeram questão de me acompanhar nesta odisseia.
Mas é hora da despedida. E como não podia deixar de ser invade-me de novo este sentimento de missão inacabada.
E fico feliz. Esta nostalgia que insiste em me atacar quando parto faz-me sempre querer voltar. Voltar aos lugares que para mim nunca deixaram de existir. Retomar os hábitos que sempre me deram tanto gozo. Mas principalmente voltar às pessoas. As verdadeiras culpadas por guardar com tanta saudade esses lugares e esses hábitos.
O Jogo da Sueca fica por aqui. Mas já com nostalgia...
Como nas viagens o regresso é sempre uma possibilidade deixem-me os vossos contactos nos comentários ou enviem por e-mail para jogodasueca@gmail.com.
Eu tratarei de entrar em contacto para vos pôr a par das novidades :)
Para finalizar, deixo uma das últimas fotos que tirei na Suécia. Daquelas que, tal como este momento, me fez aperceber que era mesmo a hora da partida...
Hej då vänner!
Bättre reskompisar kan man inte få.
O choque cultural não se passou só quando fui para a Suécia.
Há um ano atrás, logo após o meu regresso a Portugal, fui a casa de um amigo para reencontrar os meus velhos compinchas.
E foi giro. Uma das primeiras perguntas que me fizeram foi: "Mas Pedro, o que é que tu andas a fazer descalço por casa?!"
É bom viver na Suécia. Destinos que antes estavam a muitos quilómetros de distância, ficaram de repente à distância de uma viagem de autocarro. Num fim de semana lá fui eu visitar um amigo português a Oslo, na Noruega.
Não havia muito que se visse na cidade por isso optámos por disfrutar da noite. E foi a loucura. Começámos por uma jantarada sem olhar a despesas (12€ por um menu big mac). Mandámos abaixo 2 cervejas (só uma cada um, parecendo que não 10€ por uma imperial é caro). Fomos bombar para a discoteca até esta fechar portas (leia-se: 3 da manhã). E perante uma noite tão animada, saímos para a rua ainda em espírito de festa.
No nosso percurso para casa eis que avistámos duas ninfas escandinavas. A vir na nossa direcção. Invadidos pelas saudades de Portugal veio à memória a serenata de Coimbra. E decidimos criar a versão norueguesa desta tradição tão nobre: Cantámos Joe Cocker nas nossas vozes bem afinadas...
"Yoooooooou are so beautiful, to me.... Can't you seeeeee?"
Elas, encarnando o espírito de rapariga portuguesa que é cortejada: não ligaram a tamanha demonstração de afecto e passaram por nós sem ligar nenhuma.
Nós, de coração despedaçado: alterarámos a letra para que percebessem a amargura que nos ia no coração...
"Yoooooooou are so ugly, to me..."
Elas, inesperadamente: vieram ao nosso encontro para pedir explicações e possivelmente partirem para a violência.
Nós, surpreendidos por tanto carinho: Metemos o rabo entre as pernas e refugiámo-nos na casa do meu amigo.
Elas, lá da rua: começaram a cantar a sua própria serenata para nós dois.
Nós, já no apartamento: fomos espreitar à janela para ver a demonstração de amor.
Elas, apaixonadas: lá permaneciam em baixo... A dedicar-nos a sua serenata. Sem guitarrista. Sem traje académico. Sem cantiga. Gritando apenas palavras pouco agradáveis e mostrando toda a sua fúria com gestos.
Bonita, a serenata de Oslo.
Porque quando estava na Suécia e tive visitas de Portugal, ficaram espantados quando andámos de autocarro:
- Ena ena Pedro! A Suécia é tão tranquila que o motorista até saiu do autocarro e deixou-o a trabalhar.
Já quando voltei a Portugal, e andei de autocarro, assisti a uma discussão acesa entre os passageiros:
- Mas o motorista saiu e deixou o autocarro a trabalhar? Havia de ser noutro país havia, que já tinha era sido roubado! Que irresponsabilidade!
Feliz Natal!
Uma leitora do blog - a Eleonora que vive na Suécia - enviou-me umas fotos suas para ilustrar o post sobre a paranóia dos suecos com a segurança.
Obrigado Eleonora!
Se houve coisa que me surpreendeu na Suécia foi a tolerância. Os direitos do homem e da mulher são surpreendentemente nivelados.
Perante tal diferença com a realidade no mundo, decidi falar com os meus colegas adoptando uma postura um pouco irónica...
- É impressionante que na Suécia haja tanta igualdade entre sexos. Vocês são tão tolerantes que até deixam as mulheres fazer trabalhos em que os homens são melhores!
- O que é que estás a dizer?!?! - perguntou-me uma das minhas colegas completamente chocada
- Não não... Estava a brincar... Também se vêem homens a fazer trabalhos que as mulheres são mais dotadas. - disse eu para pôr água na fervura.
- O quê?!?! Pedro mas o que é que estás a dizer?!?! - ripostou ela com uma falta de diplomacia pouco sueca
- Então, mas não achas que há trabalhos que os homens, por condicionantes biológicas, são mais dotados para fazer do que as mulheres e vice versa?
- Oh meu Deus... Eu não acredito no que estou a ouvir! Ainda bem que eu não vivo no Sul da Europa, vocês são todos uns machistas! - acusou ela com uma falta de frieza que definitivamente não a fazia parecer sueca.
Seguiu-se uma procissão bonita. Em que cada um dos meus colegas se mostrou em desacordo comigo. Diziam eles que a única razão para haver esta sexualização de trabalhos era meramente cultural.
Eu não discordei deles. Mas tentei fazê-los ver que havia factores além da educação. Existem diferenças no corpo e no cérebro das mulheres e dos homens, que nos acabam por tornar mais ou menos aptos para determinadas profissões.
Não tive sucesso no meu ponto de vista. Ninguém concordou comigo.
Neste dia descobri que os suecos são tão obcecados com a igualdade de sexos que já nem sequer aceitam a hipótese de os homens e mulheres serem efectivamente diferentes.
E aprendi uma lição: uma forma camuflada de intolerância, é mesmo levando a tolerância ao extremo.
... nesta altura do ano, em que a escuridão é uma constante, vêem-se muitas pessoas a caminhar na rua com um pequeno reflector colocado, na roupa, mala, bengala...
... a Stina, uma amiga da Suécia que estudava português do Brasil, me pediu auxílio num exercício que não conseguiu resolver...
O Ram. O meu companheiro de casa indiano quando vivi na Suécia. Tive de partilhar com ele a minha frustração:
- Bolas Ram... A Suécia tem muita coisa boa, mas este negócio de cumprimentar as senhoras com um aperto de mão não tem jeito nenhum.
- Mas como é que vocês cumprimentam as mulheres em Portugal?
- Damos dois beijos. Na Índia não?
- Cumprimentar as mulheres com dois beijos? Nós na Índia respeitamos muito as mulheres! Nós na Índia nem lhes tocamos! - respondeu-me indignado
- Tudo bem... Mas se forem pessoas da família é diferente não? - perguntei para desanuviar
- Depende da familiar que é. Aí já pode ser normal cumprimentar... mas também depende da idade. Por exemplo se forem pessoas idosas respeitamos muito e nem lhes tocamos.
- Nunca tocaste num idoso para o cumprimentar?
- Comigo e com as gerações mais novas já começa a ser diferente. Já apertamos a mão aos idosos e tudo. Agora somos muito open-minded.
A página de necrologia de um jornal sueco! Com direito a assinalar não só as mortes, mas também os nascimentos, casamentos e aniversários.
... sou bombardeado com publicidade a anunciar a abertura da fase de inscrições para as universidades séniores.
É que por esta altura do ano sabia muito bem chegar a qualquer casa de banho pública na Suécia e ter sempre água quente para lavar as mãos.
O Ram. O indiano com que eu partilhei a casa na Suécia. Ainda se lembram?
Às tantas, em mais uma conversa sobre o seu casamento...
- Então Ram, a tua família já te encontrou noiva na Índia?
- Ainda não. Mas também não estou muito preocupado.
- Ahhhh... estou a ver que finalmente te convenci que a vida de solteiro é a melhor
- Achas Pedro??! Não estou preocupado porque vai ser fácil encontrar uma boa noiva. Quando um indiano vive no estrangeiro tem muito mais pretendentes.
- Pois... Mas se estás no estrangeiro nem as podes conhecer...
- Não há problema. A minha família vai-me escolher uma boa mulher.
- Então oh Ram... e se eles escolhem uma mulher que eles gostam e tu não?
- Mas o mais importante é que a minha família goste! Para que é que eu quero uma mulher que eu goste e eles não?!
... quando estava acabado de chegar à Suécia comentei a um português que já vivia pela escandinávia há mais tempo:
- Isto de viver aqui é mesmo diferente. Hoje acordei, abri a janela e estavam uns "bambis" no jardim.
E a primeira resposta que lhe ocorreu foi:
- Olha que os suecos adoram a natureza do país! Tu não mates os bichos!
Na Suécia, em discotecas com luzes fluorescentes, também se encontram pessoas com borbotos na roupa.
Quando se viaja, qualquer marco da nossa cultura é um motivo de orgulho...
Madrid, Espanha
Exposição de pintura da Paula Rego
Londres, Inglaterra
Eu nem sabia que o Banif tinha lá uma agência
Viena, Áustria
O escudo português no vitral de uma igreja
Uma rua perdida, Sofia, Bulgária
Na montra de uma loja, a camisola do Sporting
Tallinn, Estónia
Mesmo no centro da cidade, uma loja de produtos portugueses
Tallinn, Estónia
O menu de um restaurante exposto na rua. Os nomes das pizzas: Porto, Faro, Lissabon e Setubal.
O Nuno. Foi uma das primeiras pessoas que devo ter conhecido por causa do Jogo da Sueca. Ele foi estudar para Gotemburgo, e naturalmente acabámos por nos encontrar um dia. Recordo que foi engraçado falar com um português e ver que algumas coisas que eu já dava por normais, ainda causavam estranheza a um recém-chegado.
- Pedro, não percebo os suecos.
- O que é que eles tramaram desta vez?
- Eu cheguei à minha residência universitária e como não conhecia ninguém fui bater às portas dos outros quartos.
- Espera lá, tu fizeste mesmo isso? - perguntei eu a já a adivinhar que não tinha sido boa ideia
- Sim, fiz. Eu apresentava-me, dizia que tinha acabado de chegar e que ia viver com eles na residência. E eles ficavam a olhar com um ar estranho.
- Estranho como?
- Parecia que não entendiam porque raio é que eu me ia apresentar. Mas pronto, pior mesmo foi quando bati num quarto em que me atendeu uma rapariga.
- Oh não Nuno... O que é que tu fizeste? - indaguei eu já quase na certeza de que tinha cometido o mais comum dos erros de principiante
- Então, para a cumprimentar ia-lhe dar dois beijos mas ela saltou para trás assustada e estendeu-me a mão.
... entro numa casa sueca e a única coisa que o anfitrião me oferece a beber é um copo de água.
E' hoje o dia do grande jogo!
Devido 'a partida de hoje o jornal desportivo 'O Jogo' publicou uma pequena reportagem sobre a Suecia que pode ser consultada em http://www.ojogo.pt/24-231/artigo752998.asp
Fica aqui o texto na integra:
Mariza canta em Upsala amanhã, o que significa que o Fado antecede o futebol no menu de emoções servidas aos portugueses que moram na região de Estocolmo, onde a Selecção Nacional joga sábado. E não é coisa pouca para os portugueses, que pouco ou quase nada, além do Fado e do Futebol, dispõem para consumir de nacional: "Vinho português há", diz Paula engenheira electrónica de Gondomar, que há 10 anos foi ver como é que era e ficou, casou e foi mãe.
Paula é uma das cerca de dois mil compatriotas que vivem na Suécia e há-de estar sábado no Rasunda, para onde a associação de portugueses de Gotemburgo organizou excursão com dois autocarros. "Sei também que vai um de Malmö e há-de haver outros", conta a O JOGO, a meio da tarefa de ir buscar o filho à aula de violino e deitá-lo (eram as 7 da tarde em Gotemburgo).
O marido, Ola (lê-se Ula) dita com segurança os itens a que os suecos associam Portugal: "Praias, cerveja gelada, boa comida, bom vinho". O lado gostoso da vida, visto de cima, do Norte.
A corrente migratória de portugueses para a Suécia começou nos anos 60, com grupos que foram trabalhar em pedreiras a norte de Gotemburgo, mais tarde para estaleiros já desactivados e que durante anos empregaram - junto com a Volvo - levas de portugueses vindos sobretudo de Esposende e do Alentejo, para trabalhar nas fábricas ou a assentar calçada portuguesa nas cidades suecas.
Hoje, os portugueses vão na terceira ou quarta geração e só a pressão fortíssima da população árabe e do que sobrou do desmembramento da Jugoslávia faz os suecos olharem de lado a emigração: "Como aqui a vida é muito boa e mesmo sem emprego as pessoas têm casa e dinheiro no bolso, alguns começaram a abusar e os suecos sentem às vezes que lhes estão a aplicar o golpe, mas são muito calorosos, os suecos". E curiosos de saber, como diz Ola, porque carga de água vão os povos do quente Sul para a gélida Suécia.
Cliente habitual dos jogos que passam na televisão sueca, Ola não foi capaz de nomear um jogador da selecção portuguesa mas imediatamente riu quando lhe perguntámos "e então, o Cristiano Ronaldo não lhe diz nada"? "Sim claro, o Cristiano Ronaldo… estava distraído…"
Pedro Nunes tem um blogue na internet, o "jogodasuecablogspot.com" e nele regista experiências de 10 meses de estágio numa empresa de informática em Estocolmo, onde em 2007 matou saudades da terra vendo o Braga jogar para a Taça UEFA. Foi um lampejo da pátria numa terra onde adorou viver, onde, diz, "aprendeu muito", e onde pela primeira vez se emocionou com as saudades ao passar à porta de um bar numa rua tranquila. "Saiu de lá de dentro som de um CD da Mariza, foi uma emoção fantástica e o suficiente para entrar", conta.
Do que conhece da pátria que o acolheu, lembra que associam o seu torrão natal às praias, ao futebol e ao sol, alguns mencionaram "bacalhau", segundo se lembra. Com pena, não vai poder estar em Upsala, a ouvir Mariza apresentar o seu novo trabalho "Terra", nem Queiroz e os seus jogadores limparem a face dos cinco minutos lamentáveis do encontro com a Dinamarca…
O quarto homem mais rico do mundo e o mais rico da Europa é o dono da cadeia Ikea e a sua fortuna está avaliada em qualquer coisa como 29, 9 mil milhões de euros. Inguard Kamprad é, além do mais, conhecido por nunca ficar em hotéis de mais de três estrelas, nunca voar em executiva e andar sempre que pode de transportes públicos, o que nos tempos que correm é uma mensagem muito para lá da ideia de eficiência e beleza a baixo custo que tornou famosa a sua loja de mobiliário.
Com tanto dinheiro e tantas viagens é provável que Inguard conheça o jogo da sueca, mas a maioria dos seus compatriotas não, nem sabe do que se trata a menos que tenha um amigo português e o tenha acompanhado num dos serões que os clubes de emigrantes organizam a partir das seis da tarde das sextas-feiras para grandes sessões de cartas.
Como demonstra ser uma pessoa sintonizada com o mundo e a sua diversidade, também não deve incorrer no erro mais comum dos seus compatriotas, que geralmente confundem Portugal com a Espanha…
China Ociosidade
China Ruinix em Shangai
Espanha Deu canyes
Inglaterra Dama do Ocidente
Inglaterra Tuga em Londres
Pelo mundo allAround
Pelo mundo Até onde vais com 1000 euros
Pelo mundo Mind this gap
Pelo mundo Tempo de Viajar
Polónia Site do Tiago
Rússia Da Rússia
Suécia Borboleta Pequenina